segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Preconceito racial velado

Nayara Carmo

“Essa data enfatiza ainda mais o preconceito na sociedade”, assim Valdir Ramalho, professor de História, define o dia 20 de novembro, no qual se comemora o Dia da Consciência Negra, relembrando a morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares.

Segundo Ramalho, “o dia do negro é todo dia, apesar desta data levantar questões tão presentes na rotina do negro, como o preconceito racial”. O professor conta que recentemente sofreu preconceito dos próprios alunos, que camuflam como brincadeiras. Ele afirma que o preconceito “incomoda porque é mascarado, inclusive dentro das universidades”.

De acordo com Nelson Pombo Júnior, tesoureiro do instituto Inersão Latina, “o mês de novembro é um mês de luta; a população tem que se posicionar e o lugar para amplificar e instrumentalizar este debate é a universidade”. Para ele, “estudos devem ser realizados para mostrar as diferenças e buscar ações afirmativas, longe de preconceitos e discursos elitistas”, diz.

Cotas

Uma ferramenta utilizada para combater o preconceito racial são as cotas que estão em vigor desde 2001 e objetivam garantir espaço para negros e pardos nas instituições de ensino superior. Para Júnior, “as cotas não são uma ferramenta discriminatória para afirmar que as minorias não têm capacidade intelectual para ingressar nas universidades”.
Ainda segundo Júnior, “as cotas são altamente necessárias; porém, não podem existir sozinhas. São necessárias outras políticas de afirmação. Somos a maioria deste povo brasileiro e só queremos reparação”.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Os novos desafios de Dilma Rousseff

André Santos

No último domingo, dia 31 de outubro, o Brasil escolheu a nova mandatária da nação. Caberá a Dilma Vana Rousseff, 62 anos, a tarefa de comandar o país pelos próximos quatro anos. Ex-ministra de Minas e Energia e da Casa Civil no governo Lula, a presidenta – como já pediu para ser chamada – terá a dura missão de dar continuidade às ações governamentais em voga e, além disso, garantir o equilíbrio de poder numa coalizão de centro-esquerda extremamente plural e com interesses divergentes.

Um dos maiores desafios da presidenta será o de substituir o fenômeno chamado Luiz Inácio Lula da Silva. Dono de uma popularidade poucas vezes vista entre políticos no Brasil, o presidente Lula conseguiu convertê-la em liderança política, driblando com desenvoltura os entraves políticos para a composição da governabilidade no Congresso Nacional. Além disso, conseguiu sair ileso dos sucessivos escândalos de corrupção envolvendo o Partido dos Trabalhadores (PT) e seu governo, administrou as crises políticas e importantes perdas de receita, como a CPMF, domou como poucos o PMDB, fazendo com que grande parte do partido apoiasse a candidatura de Dilma Rousseff ao Planalto. Também articulou de cima para baixo as composições estaduais com o objetivo claro de garantir um palanque único para a presidenta eleita — vide o caso da disputa entre PT e PMDB em Minas Gerais — e conseguiu impor o nome da ex-ministra da Casa Civil como candidata do Partido dos Trabalhadores à presidência.

Outro maior obstáculo de Dilma será o de manter a direção governamental atual e, além disso, avançar em discussões de urgência, como a Reforma Política e Fiscal e a reorganização do Pacto Federativo para modernizar o Estado, mesmo contando com uma teórica esmagadora maioria parlamentar na Câmara e no Senado. Pesam contra a presidenta eleita a falta de ‘cancha’ política não somente para dialogar com os caciques políticos, mas para também conseguir negociar, dentro de parâmetros de perdas e ganhos possíveis, as concessões políticas necessárias a fazer valer na prática o que os números mostram na teoria. Manter a fama de durona nos gabinetes administrativos, cobrando prazos e estabelecendo metas para tecnocratas de carreira é uma característica que Dilma Rousseff já mostrou ter, em inúmeras oportunidades. Entretanto, não é ainda claro que tenha a mesma habilidade para adentrar os meandros da negociação política e gerir com a conhecida competência conflitos, crises e os interesses diversos durante o seu governo.

Neste aspecto, será fundamental a ação nos bastidores de nomes importantes do PT e do próprio presidente Lula na composição política de bastidores. Articuladores importantes do atual governo como Luiz Dulce, Aloísio Mercadante e Aldo Rebelo serão fundamentais na nova gestão Rousseff. Outros nomes, como o ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel podem ser peças importantes para a articulação política. Além disso, é necessário pôr-se em pauta que o PMDB será de fato parte do governo Dilma Rousseff, já que além de ter cargos em troca de apoio político, é parte integrante do processo de governança. E nesta arena, o vice-presidente Michel Temer — exímio articulador – também surge com um nome forte a atenuar, a meu ver, a tênue tarefa da presidenta numa área onde ela me parece não ter a intimidade que Lula tem. No entanto, são apenas análises conjeturais. Muita coisa pode acontecer até janeiro, mas as peças do xadrez político já estão à mesa; é hora dos novos desafios.