terça-feira, 9 de novembro de 2010

Os novos desafios de Dilma Rousseff

André Santos

No último domingo, dia 31 de outubro, o Brasil escolheu a nova mandatária da nação. Caberá a Dilma Vana Rousseff, 62 anos, a tarefa de comandar o país pelos próximos quatro anos. Ex-ministra de Minas e Energia e da Casa Civil no governo Lula, a presidenta – como já pediu para ser chamada – terá a dura missão de dar continuidade às ações governamentais em voga e, além disso, garantir o equilíbrio de poder numa coalizão de centro-esquerda extremamente plural e com interesses divergentes.

Um dos maiores desafios da presidenta será o de substituir o fenômeno chamado Luiz Inácio Lula da Silva. Dono de uma popularidade poucas vezes vista entre políticos no Brasil, o presidente Lula conseguiu convertê-la em liderança política, driblando com desenvoltura os entraves políticos para a composição da governabilidade no Congresso Nacional. Além disso, conseguiu sair ileso dos sucessivos escândalos de corrupção envolvendo o Partido dos Trabalhadores (PT) e seu governo, administrou as crises políticas e importantes perdas de receita, como a CPMF, domou como poucos o PMDB, fazendo com que grande parte do partido apoiasse a candidatura de Dilma Rousseff ao Planalto. Também articulou de cima para baixo as composições estaduais com o objetivo claro de garantir um palanque único para a presidenta eleita — vide o caso da disputa entre PT e PMDB em Minas Gerais — e conseguiu impor o nome da ex-ministra da Casa Civil como candidata do Partido dos Trabalhadores à presidência.

Outro maior obstáculo de Dilma será o de manter a direção governamental atual e, além disso, avançar em discussões de urgência, como a Reforma Política e Fiscal e a reorganização do Pacto Federativo para modernizar o Estado, mesmo contando com uma teórica esmagadora maioria parlamentar na Câmara e no Senado. Pesam contra a presidenta eleita a falta de ‘cancha’ política não somente para dialogar com os caciques políticos, mas para também conseguir negociar, dentro de parâmetros de perdas e ganhos possíveis, as concessões políticas necessárias a fazer valer na prática o que os números mostram na teoria. Manter a fama de durona nos gabinetes administrativos, cobrando prazos e estabelecendo metas para tecnocratas de carreira é uma característica que Dilma Rousseff já mostrou ter, em inúmeras oportunidades. Entretanto, não é ainda claro que tenha a mesma habilidade para adentrar os meandros da negociação política e gerir com a conhecida competência conflitos, crises e os interesses diversos durante o seu governo.

Neste aspecto, será fundamental a ação nos bastidores de nomes importantes do PT e do próprio presidente Lula na composição política de bastidores. Articuladores importantes do atual governo como Luiz Dulce, Aloísio Mercadante e Aldo Rebelo serão fundamentais na nova gestão Rousseff. Outros nomes, como o ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel podem ser peças importantes para a articulação política. Além disso, é necessário pôr-se em pauta que o PMDB será de fato parte do governo Dilma Rousseff, já que além de ter cargos em troca de apoio político, é parte integrante do processo de governança. E nesta arena, o vice-presidente Michel Temer — exímio articulador – também surge com um nome forte a atenuar, a meu ver, a tênue tarefa da presidenta numa área onde ela me parece não ter a intimidade que Lula tem. No entanto, são apenas análises conjeturais. Muita coisa pode acontecer até janeiro, mas as peças do xadrez político já estão à mesa; é hora dos novos desafios.

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